Em 2001 eu era diretora de uma escola privada e recebi uma mãe para efetuar uma matrícula no 1º ano/1ª série do Ensino Fundamental. A mãe me disse que seu filho tinha 11 anos e ao nascer teve uma lesão cerebral cuja sequela era a de limitaçãode dos movimentos motores de membros inferiores e superiores e também a fala, porém o cognitivo não apresentada nenhum tipo de problema, mas que até aquele momento ele havia frequentado apenas uma instituição para crianças com deficiência e nunca havia estudado em uma escola regular.
Fizemos a matrícula no 1ºano/1ª série porque a legislação da inclusão está aí para ser cumprida e iniciei uma adaptação na escola para atendê-lo. Hoje, toda e qualquer escola, tem, necessariamente, que ser acessível, mas naquela época , 12 anos atrás, ainda engatinhávamos em relação a acessibilidade. Fizemos: rampa de acesso a quadra de esportes, rampa de acesso a sala de aula , barras nas laterais do vaso sanitário , enfim. Algumas reformas necessárias para atender esse aluno que se locomovia de andador, sem, no entanto, conseguir movimentar as articulações, tais como joelhos.
Com o passar do tempo a professora percebeu que haviam limitações também de ordem cognitiva. O aluno não conseguia fixar os conceitos de letra, sílaba e palavra. Foi submetido a avaliação psicológica por intermédio de provas piagetianas que indicavam idade mental aproximada de 4 a 5 anos, estágio pré-operatório. Fazia garatujas e também com muita dificuldade, porque havia o problema do movimento das mãos e dos dedos, o que limitava o uso do lápis para traçar as letras.
Nesse ano letivo retivemos esse aluno e conversamos com a mãe informando-a que iríamos estabelecer um novo direcionamento para o trabalho pedagógico no ano seguinte. Na verdade eu não tinha a menor ideia do que fazer, mas o segundo ano dele na escola iniciou e para poder saber como intervir positivamente em seu aprendizado começamos a analisar as observações feitas sobre o aluno e descobrimos que ele gostava muito de computador.
Então, veio-me um estalo: alfabetizá-lo por intermédio do computador, porque a limitação motora dificultava muito o traçar letras e o uso do lápis ao passo que o teclado facilitava o aprendizado da escrita.
Isso significava que a ferramenta da escrita lápis não era apropriada para uma pessoa com limitação motora fina e grossa, mas a ferramenta da escrita teclado era um facilitador.
Colocamos um computador na sala de aula e dissemos a ele que seu caderno escolar a partir daquela data seria o computador. Ele ficou feliz e a mãe satisfeita de perceber que a escola estava tentando adaptar seu modo de ensinar com as necessidades de seu filho.
O avanço foi fenomenal em todos os sentidos. Claro que a dificuldade existia e que o aluno não atingiu os objetivos daquele ano, mas houve um saldo extraordinariamente positivo que o estimulou a enfrentar os obstáculos. Mas em função da relação idade x série , como também turma de alunos/amigos estabelecido neste segundo ano em nossa escola determinei, baseando-me na legislação da educação com necessidades especiais, que não mais haveria retenção deste aluno. Disse para a professora que a partir de um diagnóstico um plano de trabalho especial seria traçado para ele e a avaliação seria realizada a partir deste plano.
De modo que este aluno seguiu seus estudos sempre com a mesma turma e sempre com o seu computador e os avanços foram enormes, porém o conteúdo ministrado para ele era diferenciado do restante da classe , isto é, havia um projeto específico para ele.
Quando ele chegou na 6ª série/7º ano ele já acompanhava igualmente os conteúdos de história, ciências e geografia. A dificuldade permanecia em matemática, português e inglês. Esses componentes curriculares eram de acordo com as suas necessidades. Ele contava com aulas de reforço no período inverso aquele de suas aulas, avaliações distintas àquelas oferecidas para a sua turma.. enfim… todo um conjunto de ações diferenciadas para atendê-lo.
Era especialmente difícil fazer com que os professores dos anos finais do Ensino Fundamental compreendessem que ele era portador de uma deficiência e que, portanto, precisava de um atendimento diferenciado. A maioria do professorado não sabe lidar com diferenças porque lecionam de forma padronizada , sair deste padrão dá trabalho e requer estudo e muitos deles não possuem esta disponibilidade. Havia também o lado do aluno que, em muitas ocasiões, utilizava a sua deficiência para fazer corpo mole e desistir de alguns desafios.
Quando eu deixei a escola, este aluno estava terminando o Ensino Fundamental e no ano seguinte ingressaria no Ensino Médio. As minhas recomendações eram de que a escola continuasse os mesmos procedimentos até o final desta nova etapa de ensino.
Certamente ele já terminou o 3º ano do Ensino Médio e com exceção do 1º ano/1ª série nunca mais ficou retido em nenhum ano. Penso que já completou os vinte e três anos de vida e com desenvoltura no manuseio de computadores, calculadoras e com movimentos motores bem mais flexíveis. Seu cognitivo expandiu e poderá certamente encarar o mercado de trabalho e a continuidade de seus estudos.
Todo este processo foi regado a muita luta , mas coube à Escola cumprir com sua obrigação de organizar um plano individualizado de ensino, atendendo a todas as características e peculiaridades de condição de aprendizado deste seu aluno.
gostaria de saber se posso pedir na justiça que meu filho seja retido na 4 serie do ensino fundamental porque ele nao esta totalmente alfabetizado preciso de ajuda obrigado
Olá Alessandra,
Mas o que está acontecendo com ele? Escola particular ou pública (municipal ou estadual) ? Qual Estado e cidade?
Aguardo