
Faz anos que penso em uma nova estrutura e funcionamento para escola que tenha mais a ver com a próxima década do século XXI do que com o longínquo século XIX.
Os anos 30 do século XXI enfrentarão desafios que mal podemos vislumbrar, tamanhos serão os impactos que causarão:
a) crise climática acentuada;
b) nova configuração geopolítica;
c) robôs e inteligências artificiais;
d) profunda transformação nos meios de produção e no mundo do trabalho.
Todos esses adventos, já anunciados, não poderão ser enfrentados com uma educação formal que insiste em olhar para o passado. De modo que na minha compreensão, a instituição escolar perdeu sua função social primordial: oferecer condições intelectuais para que as novas gerações desatem os nós sociais, encontrando caminhos promissores para o desenvolvimento — ou não — contínuo da espécie humana.
Desse modo, a meu ver, uma escola voltada para atender às demandas de um futuro próximo deveria ser uma Eco-Escola, cujo DNA, obviamente, seria comunitário — construída, desde o primeiro tijolo, com base no conhecimento daqueles que dela fariam parte: o corpo docente, a equipe técnico-pedagógica, todos os demais profissionais presentes na unidade escolar, além da comunidade do entorno. Essa participação conjunta seria essencial, inclusive, na definição do programa de necessidades para a construção do próprio espaço escolar.
Seria bacana, não? Quando é que nós da educação somos chamados para discutir um projeto de construção do edifício-escola? Sim, não me esqueci de toda uma legislação que prescreve quantos metros deve ter uma sala de aula (salvo engano é um metro quadrado por aluno), orientações inclusive de metragem para quadra desportiva, laboratório de ciências, biblioteca e etc…Tudo bem. Mas quem tem este tipo de informação? Em geral o Diretor Escolar que orienta a obra conforme a legislação e os supervisores, alocados em suas Diretorias de Ensino, aprovam ou não a solicitação de abertura de uma escola. Os professores e outros profissionais ao chegar para trabalhar já encontram a escola pronta, prontinha para funcionar e cabe a todos aceitar a convenção.
Refiro-me também a outra questão: quando paramos para refletir sobre a relação entre o projeto político-pedagógico e a arquitetura escolar? Antigamente, o projeto político-pedagógico escolar era elaborado de forma coletiva, mas até isso foi abandonado nestes últimos tempos sombrios. E, ainda mais grave, os princípios políticos-pedagógicos raramente são ajustados àqueles que orientam o projeto arquitetônico.
Quem nos alerta para esta questão é Michel Foucault no seu livro
Vigiar e Punir especificamente no capítulo Corpos Dóceis. Conta-nos Foucault que os presídios, os hospícios e as escolas possuem a mesma estrutura arquitetônica, justificada por um projeto comum de ordenamento, controle, da arte da distribuição. As estruturas arquitetônicas dos hospícios, das escolas, das fábricas, dos presídios de até então, comungavam um único pressuposto, a disciplina, que na maioria da vezes exige a cerca, o muro, a fileira , o quadro, sempre fechado. A distribuição e divisão dos espaços possuíam um rigor, por exemplo, o quadriculamento.
Já entrou em uma sala de aula? O piso é quadriculado, ou seja, 1 metro quadrado para cada aluno. Cabe aí uma carteira com uma cadeira, enfileirada horizontal e verticalmente. Os mais baixos e mais estudiosos à frente, os mais altos e menos estudiosos no fundo. À frente da classe o professor com sua mesa maior e posicionada à direita ou à esquerda do quadro negro. Esse ordenamento por fileiras no século XVIII, segundo Foucault, “começa a definir a grande forma de repartição dos indivíduos na ordem escolar.”
Quais eram ou quais são os princípios pedagógicos que um prédio escolar, com salas de aula como as descritas acima, pretendem ensinar?
Sendo assim, é necessário repensar a organização espacial, a estrutura e o funcionamento da escola, de modo a permitir que ela não apenas ensine, mas também dê suporte a um projeto ecológico-político-pedagógico, cujos pressupostos se baseiam em uma visão de mundo ecológica, e, portanto, sistêmica, multifacetada, complexa e em rede.
Quem está disposto a pensar a respeito?

Sou a Profa. Sônia Aranha, consultora educacional, bacharela em Direito, pedagoga e mestre em Educação pela Unicamp. Atuo na área do direito educacional, com foco na construção de caminhos pedagógicos e jurídicos mais promissores para os alunos.
Caso precise consultar-se comigo, entre em contato: saranha@mpcnet.com.br
Atenção!! A consulta ( tirar dúvidas, blá,blá,blá, não é gratuita, fica a dica! 🙂
Para consultar o meu currículo: Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/2146942491242468.









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